FÁTIMA BRACARENSE
por Cel. Adilson Bracarense
Irmão e admirador
Numa bonita manhã, de 9 de julho de mil novecentos e cinquenta e três, mais precisamente às 10h30, veio ao mundo a Maria de Fátima Bracarense, a primeira das 3 Marias, do casal: Cenira de Jesus Bracarense e José Vicente Bracarense. Dito assim, devido papai ter deliberado colocar Maria, daí em diante, nas filhas que nascessem. Maria de Fátima Bracarense, seguida de Maria Cristina e, a última das Marias, Maria José. Das Marias, a de ar mais severo. Seria sempre assim, preocupada, séria demais e pronta a ajudar a todos, desde a mais tenra idade. A infância transcorreu sem grandes acidentes. Às margens do rio Arrudas, na avenida Tereza Cristina, na casa de número 1650, em Belo Horizonte, cresciam os “filhos do capitão”, sem luxo, com fartura dos folguedos e a alegria da molecada da vizinhança. Mamãe organizava o café da tarde para todos, brincávamos ligando para o “Telefone pedindo bis”, ‘‘pegador da lata’’, e claro, o famoso ‘‘passar anel para o beijo’’, ‘‘abraço ou aperto de mão’’. Já tínhamos ali grandes professoras, a Abigail e a Águeda. Quando mudamos para Uberaba, em 1964, mudamos o status para “filhos do comandante”. Nada que nos subisse a cabeça, pois papai cultuava a simplicidade e o respeito ao outro. O Ten Cel José Vicente Bracarense assumiu o comando do 4ºBI em 10 de junho de 1964 e com ele toda a família.
Foi em Uberaba que a Fátima formou-se em Química. Daí em diante passou a lecionar e angariar um círculo cada vez mais expressivo de ex-alunos. Recentemente, em consulta médica, conversa vai, conversa vem, e a pergunta inevitável: “o que você é da Fátima Bracarense? Foi minha professora”. Andar com ela no Shopping é tarefa ingrata. “Oi professora! Tá lembrada de mim?”
No Uirapuru Iate Club, seu esporte favorito é a caminhada. Não tem quem não a conheça. Do porteiro ao dono do clube a Fátima é conhecida. Quando das competições de Canastra lá está a Fátima, das primeiras a ser lembrada para os jogos. Aquele ar sisudo da professora compenetrada perde de longe para o coração aberto aos amigos e, principalmente, os irmãos. Foi assim quando o caçula, Paulinho, caiu severamente doente no Hélio Angotti. Lembrava aquele romance do J.Cronin, “ Vigília na Noite”. Mobilizado por ela, atravessamos longas noites acompanhando o Paulinho. Quase um ano, não me lembro. Revezávamos lá dia e noite. “Ó Paulinho, eu vou ficar aqui, mas você vai parar de fumar”. “Não Fátima, pode deixar”. Sempre assim, maternal, professoral, sempre preocupada.
Uma das amizades mais longeva é a da Darci Alvarenga Gomes de Oliveira. Amigas desde o início dos estudos, até hoje se falam diariamente. Que bela amizade. O respeito e a consideração pelas mais comezinhas das coisas faz das duas uma só, irmãs siamesas. Num curto período que morou em Niterói-RJ angariou outra amizade que dura até hoje. Há poucas semanas recebeu aqui a amiga Marília Chaves de Menezes. Amizade pura e simples, verdadeira, sem interesses escusos.
Com os irmãos não é diferente. Não tem a quem a Fátima não socorra. Até pouco tempo o Taninho era uma espécie de filho adotivo. A Fátima administrava-lhe até o pensamento. Acho que era devido a mamãe paparicar demais o Taninho (José Vicente Bracarense Filho), ela sentiu-se na obrigação de manter o privilégio. Quanto aos sobrinhos convencionou-se que a Fátima não pode mais ser a única madrinha. Ela está sempre presente. É também uma espécie rádiopeão. Não tem nada que ela não saiba. “Ó, caiu a maior chuva em São Paulo, com granizo e tudo. Prepara, hein! Depois não fala que não avisei”. É assim, preocupada com tudo, com todos e, às vezes, esquece de si.
Já ajudou como voluntária em diversas organizações. Uma das que me lembro é a APAE. Ela é considerada a madrinha do grupo Chorocultura. Foi ali que construiu muitas amizades duradouras com os componentes. Acho que é isto. Já estou ouvindo milhares de lamúrias dos não citados. Culpa de sua grande amiga Luciana Vitali De Vito e Vitor que limitou em cinquenta linhas essas lembranças.
Obrigado Fátima, por ser nossa amiga e irmã querida.
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